Planta do Castelo | Planta da Vila
Monumento Nacional desde 1910, o Castelo de Belver, alcandorado num penhascoso cerro sobranceiro ao rio Tejo, é um dos exemplares mais completos da arquitectura medieval militar existentes no país e peça fundamental do sistema defensivo do território português na luta contra os mouros e na tentativa dos primeiros monarcas em atingir o Alentejo e Algarve.
Ex-libris monumental do
concelho de Gavião, nasceu da necessidade sentida pelo rei
D. Sancho I de, por um lado, defender e assegurar que
as arremetidas dos sarracenos na fronteira sul do território
não afectassem as povoações de "aquém Tejo"
anteriormente conquistadas e herdadas de seu pai D. Afonso Henriques e,
por outro lado, de continuar a reconquista aumentando o reino.
As consequências desastrosas da invasão dos infiéis em 1190 fez recuar a fronteira meridional até à Linha do Tejo, com excepção de Évora. Depois de auscultar conselheiros e nobres, como as hostes do Rei e dos seus súbditos eram insuficientes face à superioridade numérica dos inimigos, houve que recorrer às Ordens Monástico-Militares e, também, à construção de castelos ao longo da linha do Tejo reforçando o obstáculo.
À Ordem do
Hospital de S. João de Jerusalém, na pessoa do
seu Prior Afonso Paes, D. Sancho I faz doação das "Terras
de Guidintesta", em 13 de Junho de 1194, concedendo-lhe que edificasse
um Castelo a que o próprio doador impôs que se desse o
nome de Belver por considerar o local formosíssimo:
"Ego Sancius Dey gracia Portugalen Rex... facio Cartam Donacionis y perpetue firmitudinis nobis Donno Alfonso Pelagij Priorj Hospitalis... diterra que nocatur Guidintesta in qua concedimus nobis ut faciatis castellun quodam cuj imponjmus nomem Belveer...".
A construção do Castelo fez-se em pouco tempo pois já em 1210 se guardava nele parte dos dinheiros do tesouro real que, no seu testamento, D. Sancho I destinara a piedosos legados.
Terminada a construção do
Castelo e com a permanência de cavaleiros e forças
militares na sua guarnição, ter-se-á iniciado o
povoamento ao seu redor, resultando na
construção do casario que, a pouco e pouco, foi
constituindo o povoado, não existindo no interior da fortaleza
espaço físico para alojar grande número de pessoal
militar. Em nosso entender, é assim pouco provável que
Belver tenha sido residência conventual ou Cabeça da Ordem
dos Hospitalários em Portugal. No entanto, é
crível que os elementos da Ordem tenham residido extramuros
acorrendo ao Castelo em caso de eventual ataque.
Depois
da conquista definitiva do Algarve, os castelos da Linha do Tejo perdem grande
parte do seu poderio militar. No entanto, para consolidação da
Dinastia de Avis, cinco anos após a Batalha de Aljubarrota,
o Castelo de Belver retoma o seu valor no contexto da defesa do reino, pelo
que é beneficiado com obras de restauro e ampliação dirigidas
por D. Nuno Álvares Pereira. Porém, devido ao tratado de paz com
Castela em 1411, não foi palco de qualquer acção militar.
Já no século XV, o castelo de Belver vê-se envolvido na luta entre D. Leonor e o Regente D. Pedro. O povo de Belver toma o partido da Rainha viúva e é cercado por forças de D. Lopo de Almeida, partidário de D. Pedro, depois 1.º Conde de Abrantes.
No século XVI, os Belverenses e o seu Alcaide ter-se-ão oposto ao domínio filipino colocando-se ao lado de D. António, Prior do Crato.
Entra depois num período de
degradação e ruína para o qual muito terá
contribuído o Terramoto de 1755 que provocou
graves danos nas muralhas e na torre de menagem. Entre 1846 e 1948
serviu de cemitério à Vila. Em 1909 um forte abalo de
terra degradou ainda mais um espaço decadente e alquebrado.
Termina esta fase conturbada na década de 40 deste século
com profundas obras de restauro levadas a efeito pela
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais.
Originalmente da arquitectura militar gótica, o Castelo de Belver, devido a posteriores intervenções recebeu elementos renascentistas, maneiristas e barrocos.
A poderosa muralha descreve um pentágono irregular de
ângulos arredondados. A Sul, rasga-se a porta principal ladeada
por dois cubelos. O caminho de acesso ao Castelo é revelador das
estratégias militares dos freires-cavaleiros de
S. João do Hospital, pois ao terminar em "cotovelo", não
permitia aglomerações e obrigava a formar fila não
permitindo o ataque directo. Seis torres e adarve a todo o correr,
marcam a muralha do vetusto Castelo.
No interior, erguia-se a antiga
alcáçova, da qual só restam algumas paredes, a
cisterna e a capela de S. Brás. A praça de armas abriga a
torre de menagem de planta rectangular com cunhais em cantaria e
grossas paredes, no interior da qual funciona um pequeno
museu com alguns achados arqueológicos da
freguesia.
Crê-se ter morado aqui durante algum tempo a princesa Santa Joana e também Luís de Camões, este por questões judiciais...
O Castelo marca definitivamente a paisagem humanizada desta terra conservando ainda alguns traços da sua primitiva arquitectura como sendo os panos torreados dos muros e cubelos, a torre de menagem, as cisternas, a antiga alcáçova e outras dependências.
De realçar a existência, dentro do seu perímetro, da Capela de S. Brás, datada do século XVI, com características renascentistas de transição para o maneirismo, com um retábulo pré-barroco talhado em preciosa talha quinhentista, com vinte e quatro nichos para albergar bustos e braços de Santos, onde se expunham as Sagradas Relíquias que da Palestina haviam sido trazidas pelos freires da Ordem. Este retábulo terá sido oferecido pelo Grão Prior do Crato, Príncipe D. Luís, filho de D. Manuel I.
O Historiador do GTL Belver
Dr. Luís Filipe Dias
2000.10.24
Colaboradores | Texto, plantas e fotos: Gab. Técnico Local de Belver |
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