Construída num morro granítico a oitocentos metros de altitude e localizada a menos de quatro léguas da actual fronteira com a Espanha, a aldeia fortificada de Monsanto foi, até que os azedumes entre portugueses e espanhóis se diluíram na resignação do tempo, a praça forte mais desejada pelos nossos vizinhos, numa zona da Beira Interior onde se degladiaram em mil batalhas.
Não se conhece a data de fundação do povoado, ainda agora constituído por casas de pedra ou aproveitando, como telhado, os penedos enormes que se encostam, uns aos outros, em equilíbrios aparentemente instáveis. No entanto, foram ali encontradas algumas jóias em ouro de proveniência Cartaginesa.
Os Lusitanos devem ter andado por lá. Quanto à permanência dos Romanos não existe qualquer dúvida, pois o castelo de Monsanto, de onde se avista tanto a Espanha como as serras da Gardunha e da Estrela, foi construído sobre um primitivo castro.
Para quem pretenda visitar o histórico e alcantilado burgo, o nosso conselho é o de munir-se de um bom bordão e da necessária resistência física, já que as viaturas terão que ser abandonadas bem antes da meia subida, por via da estreiteza das ruas; mais precisamente no pequeno largo do miradouro, onde alguns canhões, com duzentos anos bem contados, ainda apontam para o lado de onde, segundo o povo, não vem bom vento nem bom casamento...
A partir daqui, há que palmilhar a calçada difícil de subir, serpenteando por entre grutas, fontes e habitações de primeiro andar ou térreas, mas, em qualquer caso, de pedra solta ou cantaria.
Aqui, um beco conduz a nossa curiosidade até um mirante, debruçado sobre um vertiginosso desfiladeiro. Ali, uma viela desemboca em estreito patamar onde uma igreja medieval garante, na rusticidade da frontaria ou na tela vã da cobertura, a singeleza e a antiguidade da fé do povo local.
(...)
Cá do alto compreendemos, então, as razões da teimosia de Castela e os exageros da cantiga sobre as orelhas de mula e a conquista do mundo. Exército algum poderia penetrar no país, num horizonte de dezenas de quilómetros, sem ficar sob o olho arguto do vigia, postado a preceito naquele ninho de águias.
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O autocarro apitou, anunciando a partida para Lisboa.
Quero cá saber de Lisboa...
Colaboradores | Texto e fotos: Pedro Gabriel |
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