Data de 943 um contrato realizado entre Zuleima Abaiud e o Abade Mestúlio do Mosteiro de Lorvão onde, pela primeira vez, nos aparece o topónimo ARAUZ, que designa a povoação mais importante dessa altura em toda a região, e que se localizava junto ao morro onde se levantaria, mais tarde, o Castelo de Arouce. O nome do contratante deixa entender que se tratava de um moçárabe, um cristão a viver no "mundo muçulmano", do qual adoptara grande parte da maneira de ser e até do próprio nome. Lembremos que Coimbra era, nesse tempo, bem como seria ainda nos dois séculos seguintes, um importantíssimo centro moçárabe, com uma cultura viva e uma actividade económica bem mais desenvolvida que a das outras povoações a norte do actual território português.
Se o castelo já
existia no tempo da dominação muçulmana é
algo que não podemos garantir, só havendo em apoio dessa
teoria a tradição popular, uma bela e curiosa lenda, mas
não menos inverosímil.
A lenda da origem da Lousã faz-nos viajar até ao tempo longínquo da dominação muçulmana, quando um rei ou um emir de nome Arunce teria fundado o castelo para proteger a sua bela filha Peralta, enquanto ele se encontrasse em campanha no Norte de África ou aí se deslocasse, a buscar reforços contra as tropas cristãs que, mais e mais, faziam cerco às terras maometanas. Seria em memória deste fantástico rei que o castelo e povoação se passaram a chamar Arouce.
Sem dúvida que a
fundação do castelo ou, pelo menos, profunda reforma
deste, se deve ao alvazil D. Sesnando, o
moçárabe de Tentúgal educado em
Córdova, o companheiro do Cid Campeador, que Fernando Magno
colocou à cabeça da região de Coimbra,
definitivamente reconquistada em 1064.
A ele ficamos a dever, não só a pacificação do território e a sua defesa, mas também e principalmente a sua profunda reorganização, na qual se incluiu a construção ou reconstrução de diversos castelos, como o de Coimbra, e ainda os de Montemor-o-Velho, Penela, Penacova e naturalmente o da Lousã/Arouce.
Com a verdadeira fronteira entre a Cristandade e o
Islão no Rio Mondego, até 1147, ano da conquista de
Santarém e Lisboa, era natural que o jovem rei tivesse
demonstrado grande preocupação em edificar ou reactivar
pequenos castelos em lugares-chave como era o da
implantação de Arouce. No foral que concedeu a Miranda do
Corvo, no ano de 1136, já alude claramente à
existência do castelo de Arouce, a que o fundador da
Nacionalidade dará também carta de foral
algum tempo depois, concretamente em 1151.
Porém, em 1160, num outro documento
régio, já se alude à Lousã
independentemente de Arouce, bem como a Vilarinho, o que prova que a
bacia lousanense e a escarpa de Arouce com o seu castelo eram
realidades bem distintas. Como antes foi referido, com a
pacificação de D. Sesnando, aquilo que pensamos ter sido
uma vila romana voltou a ter vida própria e atrair as
populações que já podiam viver em campo aberto,
longe dos muros do castelo.
A Lousã, durante a Idade Média,
continuou a prosperar e, como tantas outras terras do reino, viu o seu
velho foral confirmado em tempo de governo de D. Afonso
II, conjunto de normas, privilégios e deveres que
estariam em vigor até aos alvores do Mundo Moderno pois
só em 1513 viria a ser revogado com a entrada a 25 de Outubro
desse ano, de nova carta dada por D. Manuel I.
Colaboradores | Foto torre: Júlio Reis |
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Foto muralhas e porta da torre: Jorge Cascalho | |
Restante texto e imagens:
Câmara Municipal da Lousã | Carlos Manuel Monteiro
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